sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Poema das árvores - António Gedeão

"As árvores crescem sós.
E a sós florescem.
Começam por ser nada.
Pouco a poucose
levantam do chão,
se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos,
e os ramos outros ramos,e
deles nascem folhas,
e as folhas multiplicam-se.
epois, por entre as folhas,
vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores,
e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.De dia e de noite.Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores."

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