quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não só vinho, mas nele o Olvido

Não só vinho, mas nele o olvido, deito

Na taça: serei ledo, porque a dita
É ignara. Quem, lembrando
Ou prevendo, sorrira?
Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Consigamos, pensando; recolhidos
No impalpável destino
Que não 'spera nem lembra.
Com mão mortal elevo à mortal boca
Em frágil taça o passageiro vinho,
Baços os olhos feitos
Para deixar de ver.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

1 comentário:

Lídia Borges disse...

Ricardo Reis, o mais clássico dos heterónimos a incitar à bebida. Beber para esquecer, "Para deixar de ver"...

L.B.